Outubro - novembro

 Estou a um passo de ficar com o Paulo lacônico.


Não o Paulo que distingue uma vaca de uma galinha


Nem o Paulo seguidor do Cristo que não negava à lei


Mas o Paulo execra dos maldicentes


Que mandava calar a torcida inteira do fluminense, mal-educada com o juiz


Saía do estádio e comia um pão com calabresa e uma coca


Este Paulo vai mais de acordo com a única verdade que enunciei na vida: que somos todos um tubo digestivo com sintonia espiritual 


Posso estar negando o verdadeiro Cristo, que nasce num chiqueiro qualquer


Ou que vira um croquete


O cristo-churrasco-grego do centro da cidade


Mas pelo menos glorifico a mim mesmo


E não há religião melhor que essa


Nem mais egoísta


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No século XII, havia uma aldeia bárbara, ao norte do Marrocos. De costumes simples, resolviam tudo com facilidade e presteza, embora a vida fosse muito dura. 


Num inverno rigoroso, a aldeia toda foi acometida de uma forte gripe. Muitos morreram, outros tantos ficaram acamados. 


Corria a notícia de que o mago da aldeia conhecia uma erva que podia curá-los, uma tal de dente-de-leão. Aos montes, iam à cabana do mago, sorviam o líquido rapidamente como se fosse a única salvação e iam embora cheios de esperança. O mago dizia que o aroma da flor deveria ser apreciado. E ele mesmo curou-se da gripe.


Descontentes, muitos aldeões voltaram à cabana do mago dizendo que não tinham ficado bons, ao que o mago disse: tão importante quanto querer se salvar, é apreciar a vida. Ninguém entendia a frase oracular verdadeiramente. Geógrafos, no século XXI foram desvender o enigma: o que curava no chá era o vapor da infusão, por isso devia ser apreciado lentamente. Os bárbaros acreditavam que a cura era a essência da planta, mas não: era a inalação de seu vapor que os curava da gripe.


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