Dia do xadrez – quem não leva a torre, derruba o peão

 

Hoje é dia do xadrez. Milenar jogo de tabuleiro que teria suas origens em solo indiano ou persa, e, feitas as modificações, teria surgido na forma atual no renascimento. Renascimento de Maquiavel, entre outros.

O jogo de tabuleiro não tem feito tanto sucesso quanto as camisas xadrezes. Em qualquer departamento de humanas, parece que o pique-nique foi suspenso e saiu todo mundo com as toalhas nas costas. Melhor assim. O xadrez nas humanidades, cinqüenta anos atrás, era o xadrez de Herzog, o xadrez dos porões da ditadura. Naquela época ainda se dava a vida pela “liberdade”.

Lembro aqui de dois amigos. Um dizia que na contemporaneidade, “estava tudo diagramado”. Tudo dentro do tabuleiro, portanto. Outro, genialmente, me perguntou “por que o único animal no xadrez é o cavalo?”. Vixe! Que pergunta... mas de certo é porque numa invasão como a do Carandiru, o elemento-força é sempre o cavalo.

Nesse dia do xadrez, me pergunto por que alguns doutos homens podem aventar tomar o segundo imóvel do cidadão e não se toca no assunto “reforma agrária”?. A resposta eu encontro no próprio tabuleiro “quem não leva a torre, derruba o peão”.

O peão é aquele que compra um terreninho, vende uma moto, levanta um barraco. Deixa de fazer faculdade para comprar outro terreno, acorda de madrugada para trabalhar na feira, levanta outra casinha, depois vende essa casinha, financia a faculdade do filho. Esse é um entre milhões de cidadãos-José. O peão é  a linha-de-frente do capitalismo. Tanto é  o que resguarda todas as outras peças, quanto é o mais numeroso, o que tem menos liberdade de movimento, e, fatalmente, se os “bispos” continuarem pregando a tomada do segundo imóvel do cidadão, o peão será o primeiro a ser derrubado, quando, bem utilizado o tabuleiro, poderia se tornar uma rainha, legitimando e dando lógica ao jogo que não exita em expor suas damas a situação mais aviltante que a dos peões. O peão é a realeza em potência. Professores como Safatle portam-se como os bispos de outrora, que levavam à praça pública os elementos desviantes, e convenciam a massa a abrir mão de sua cota de feno por um papado que queria o bem da maioria mas não mexia com o privilégio dos verdadeiramente e estruturalmente desestabilizadores da ordem social – os ricos egoístas do agro.

 

Lucas Furió só sabe mexer as peças do xadrez. Não conhece outra estratégia que não o roque.

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