Prazer lícito


 

Prazer lícito

 

O território da aventura humana chamado “prazer” recebe avaliações médicas, psicológicas,  artísticas, poéticas. Mas boa parte de seu mecanismo é ainda um mistério. Em nome do prazer,  o ser humano já foi além dos anjos, por exemplo no prazer de resgatar uma pessoa amada, e já desceu abaixo das bestas, por exemplo forçando uma pessoa a ter relação sexual.

A moderação é aclamada como virtude desde tempos antigos, quando se entregar a uma paixão, por exemplo, em Roma, era visto como uma fraqueza vergonhosa, embora o prazer com pessoas do mesmo sexo não fosse tão vexatório.

Há que se considerar que há toda uma história de negação do corpo nas religiões, em , quase todas, sem exceção. A postura ascética sempre prescreveu desprendimento da carne. Embora, é verdade, não raro os profetas falassem do prato, as culturas levaram para as núpcias as reprimendas. Resultado: não há cristão hoje que negue uma picanha ou lingüiça mas os pastores e padres insistem a todo tempo na castidade.

O prazer intelectual, seja memorizando uma poesia, resolvendo uma equação, solucionando um problema, é um dos maiores êxtases que o ser humano pode experimentar. O mesmo ocorre quando atendemos a uma proposta, satisfazemos o “super ego” e o “ego” ao mesmo tempo. É algo único. Por isso o prazer lícito é tão difundido e querido de todos.

Prazer lícito é aquele que nos leva às alturas e não agride nossa estrutura de caráter. Ser aprovado numa prova, cumprir um dever, saborear algo que seja permitido em sua cultura, desde um frango à passarinho até uma concubina de 14 anos, por exemplo, no oriente médio, ou comprar um veículo novinho, no ocidente, ou mesmo participar da orgia da universidade estadunidense. Cada cultura tem seus prazeres lícitos. E em nome disso, boa parte do conflito no mundo: o inferno são sempre os outros, como disse Sartre. E, entre o bar ianque de loiras peitudas e cerveja à rodo, e a declamação quaternária do Corão no Irã, há uma distância maior do que entre o cérebro e o coração de qualquer ser humano.


Lucas Furió tem prazer enorme no “ver”: quadros, prédios, artes gráficas, paisagens, flores, animais, árvores, céus, mulheres por que não?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DIREITO sagrado, laico e republicano – a causalidade que nunca chega a termo

20 textos Junho- Agosto

Metafísica do telhado e o IDH à flor da pele: o último estrato do geóide revela uma “situação”