DO CONTRA TODOS É SER CONTRA NENHUM

 


DO CONTRA TODOS É SER CONTRA NENHUM 

“Democracia”, por definição e etimologia significa que a maioria julga melhor que um. Não se opõe à republica, como poderíamos pensar, mas sim à monarquia e à aristocracia. Como exemplifica a Republica Popular Chinesa.     

Dizer que a maioria julga melhor que um é o mesmo que não entender nada de cobras. Quando se é picado, vem um vizinho da frente querendo jogar café na picada. Não pode. O outro vizinho de cima quer te dar cachaça. Não pode. O vizinho de baixo sugere o torniquete. Não pode. E um único, na multidão, tem a saída para o problema: o elitista soro antiofídico.       

É bem verdade que a verticalização nem sempre garante sabedoria e conhecimento. Há inúmeros ditatores imbecis, para não dizer dos reis tolos. Mas dizer que a maioria é melhor que qualquer homem é negar a ciência. É negar a experiência. Por outro lado, não basta ciência para ser bom. Nem ancienidade. Os japoneses costumam viver muito. E em grande escala são monarquistas: entre aqueles cujo pior elemento poderia ser um bom alcaide, pratica-se a monarquia. Já numa massa de néscios e dissolutos, reina a democracia...

É surpreendente que não reconheçam a superioridade alheia garotinhos de quinze anos, isso se deve a provavelmente terem sido cercados pela mediocridade a maior parte de suas vidas. No plano ético e no plano técnico. Ou todo mundo era mediocremente bondoso ou todo mundo mediocremente sabedor. Nunca se assustaram com a bondade de um santo nem com a competência de um gênio. Com 14 anos eu era democrata até que me deparei com um professor que cobria a lousa inteirinha de estatísticas sem consultar nem um rascunhozinho. Percebi que havia gente muito mais competente que eu no mundo.

O democrata não faz caso ente um assassino e um enfermeiro. Para ele, todo mundo é dotado das mesmas paixões e aptidões. Com tamanha negação dos fatos, terá o democrata que lidar em seu leito de morte, ao escolher seu cuidador. E aí se tornará um aristocrata, forçosamente – o que não raro já o era, nos bastidores.

A democracia vence as eleições e reina soberana entre as preferências nacionais pois a arrogância é tão alastrada quanto a ignorância, e cada qual julgando-se o melhor, deixa de discutir o bem e o mal desde que se lhe outorgue o titulo de partícipe da pilhagem pública.

Sou o mais radical democrata. E assumo que a única verdadeira democracia é a direta. Exige do povo um surreal caráter afável e um intelecto bem formado em todos os estratos. O que se chama democrático não passa de teatro e engodo, em todo o mundo. São malhas de captação de legitimidade, nada mais. O melhor dos mundos seria a monarquia do mais sábio e bondoso informado pelos mais significativos conselhos populares. Uma mistura de Suíça e Reino Unido. Supondo que os monarcas britânicos sejam algo além de tecnocratas.

Em nosso mundo de medíocres, em que o santo não sabe direito empresarial, o burocrata não dá esmola, e o professor de ética não conhece economia, é preciso nivelar os talentos e virtudes. E para isso, nada melhor que a estrutura republicana. Um freia o outro. Se não avançamos triunfalmente como sob um César ou um déspota esclarecido, também é quase certo que em menos de cinco décadas não se afunda num repente a nau dos loucos chamada Brasil, pelo próprio sistema de pesos e contrapesos. Pela própria estrutura de embate que se formou. Para o mesmo tanto de conservadores, há uma enorme fileira de progressistas, e isso se repete em qualquer viés que possamos discutir; além dos novos poderes difusos que contribuem imensamente para que a nação não se engesse ou se desmantele todinha ao mínimo abalo sísmico. Porque é certo que, no Brasil, surfamos no meio de uma enorme placa tectônica que mistura privilégio público, hegemonia privada e meritocracia ilusória.


Lucas Furió pode aceitar que haja gente mais capaz, mas em termos de bondade, só perde para Jesus e seus santos

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